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domingo, 31 de outubro de 2010

É esta a solução?


Então é esta a solução? Exalas o cheiro das tuas desgraças. Compraz-te com a languidez dessas notas mortíferas. Decompõe-te entre teus cortes e tuas queixas. Absorves apenas os estrumes do que a vida já te ofereceu.
Então é esta a solução? Teus “eus” quebrados. Teus pedaços espalhados. Teu caminho sem desvio. Tuas verdades desacreditadas. Tua fuga. Teu cansaço. Tua fera. Teu pescoço enrijecido. Teu eterno assassinato.
Então é esta a solução? Uma caneca. Um desespero. Uma aceitação. Um embaraço. Uma perda. Um discurso. Uma desistência.
Então é esta a solução? Pronuncias o “nunca mais”. Inspira tuas mágoas. Ouve apenas teus gritos interiores. Sentes o gosto do vazio. Anuncias teu próprio fim.
É realmente... esta a solução?

Por: Letícia Rosa

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A enigma


Alguns dias atrás na volta pra casa resolvi pegar o caminho mais longo, afinal eu estava meditando e precisava de um tempo. Refleti muito sobre a política, sobre nossas atitudes egoístas mesmo quando achamos que fizemos a coisa certa. Sabe? Quando achamos que por deixar um idoso ou um deficiente físico passar na frente da fila do banco, afinal por que nos sentimos tão bem sendo que era um dever? Sim, chegamos a esse nível!
Mesmo enquanto pensa nessas coisas não consegui tira-la da minha cabeça, tira-la de mim. Gostava dela especialmente por não entendê-la bem, ela era um enigma, pois não sabia se gostava de mim ou não ... Um idiota eu era, afinal, eu a vi apenas algumas vezes. Não, minto. Um dia cheguei a conversar com ela. Tentarei resumir a conversa, mas creio que não haverá necessidade...
Enfim, ela estava sentada nas escadarias do colégio concentrada em uns papeis e quando vi que um havia caído prontifiquei-me a pega-lo, pois sabia que seria no mínimo romântico, mas me desapontei ao ver o que estava escrito:

Querido, queria poder dizer que o amo
Mas o odeio cada vez mais
Uma vez que tenha me roubado
Roubado o que me mantém viva
O que agora passa a ser voc


Bem só foi até ai que ela escreveu. Após devolvê-la comecei a interpelá-la ferozmente, o que pude entender, pela sua reação, que pareceu meio estranho.
- Oi, bonito o que você estava escrevendo! – disse isso ainda constrangido tentando mudar de assunto
Ela sorriu num misto de timidez com raiva e rapidamente tomou o escrito de minhas mãos – Obrigada! Você sempre lê as coisas alheias?
- Oh, me desculpe! – tentaria evitar, mas já estava muito endereçado no destinatário daqueles escritos. – bem, já que conheço seu segredo posso saber ao menos para quem são? – até tentei sorrir, mas este foi mais para ciumento do que para amigável.
- Até que não diria, mas como ainda não tenho para quem mandá-la posso te dizer. – e com isso ela se levantou e saiu para sua sala.
Quando eu já estava a uns quarteirões de casa, eu a vi trombar com um menino alto, pele branca, cabelos negros e um enorme sorriso - um tipo comum se não fosse pelas vestes que o davam uma aparência de intelectual. Percebi logo que suas inspirações tinham sim um dono. Hoje ela perdeu a graça, pois já havia matado a charada e até eu tinha a ajudado na conquista do rapaz. Que sinto muito em dizer que não durou muito.

Por: Victor Magalhães
ps: A história acima é uma ficção.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Adiante


É nisso que o desespero nos torna. Viramos nossas costas, fechamos nossos olhos. Por que nos obrigamos a esquecer e seguir em frente? Por que nada mais é confortável? Por que diabos nós deixamos tudo aquilo cair ao longo do caminho?
Não. Isso não é o que queríamos, é?
Olhe, eu queria poder dizer-te que tudo será reconhecível. Queria tanto poder dizer-te que quando tudo isso passar, seremos os mesmos. Que nossos corações permanecerão sem cortes. Mas... Isso já aconteceu antes. Os fardos se tornam pesados de mais para os braços infantis...
Os ciclos são necessários.
Passamos por cima de tudo que podíamos. Desfizemos de tudo que fomos capazes. Trancamos o nosso passado em nossas caixas. O resto nos foi roubado.
Mas nós sempre seguimos adiante.
Com dores, amores... Perdidos, escondidos ... Por mais fundo que tentamos esconder essa realidade, ainda somos meras crianças assustadas. Ainda somos carentes. No final das contas, o que queremos é apenas que haja um ombro a se molhar. Que alguém nos abrace, nos conforte e diga que está tubo bem.
Queria tanto que estivesses aqui!


Por: Letícia Rosa
ps: Este texto foi inspirado por [e é dedicado a]: Victor Magalhães

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Os Lunáticos


Eram 2 horas da madrugada, numa sexta-feira, aqui na minha cidade. Não conseguia dormir, devia ser o excesso de café. Fui pra uma parte do meu apartamento que eu quase não frequentava, a sacada. A partir deste dia, deste exato momento, minha vida passou a ter um sentido diferente.
Às 2 horas da manhã, muitos dormem por terem que acordar cedo, mas existem aquelas que vivem a noite, não existe o seu dia ensolarado, mas sim, a sua madrugada estrelada. Naquele dia sentado na sacada do meu prédio, passei a ver a cidade de uma forma que não via antes, talvez por falta de tempo. Podem ter outros que não gostem, mas hoje em dia o meu hobbie é ficar toda a madrugada escutando dos carros, dos aviões, das pessoas, das músicas, e até mesmo das sirenes. A brisa lá de cima suaviza minha mente, me faz esquecer de tudo. Foi até quando me perguntei se existiam pessoas assim como eu, com esse hobbie estranho, um tanto exótico
Resolvi procurar na internet a respeito disso, me dizendo que era uma coisa muito sem sentido, mas eu fiz. Fiquei não mais que meia hora até encontrar um blog chamado “Os Lunáticos” que era de pessoas da minha cidade. Lá havia postagens de usuários a respeito da mesma coisa que eu fazia, o mais surpreendente, foi quando descobri que suas idéias e sentimentos eram iguais aos meus.
Este pode ser um conto meio “cafona” para alguns, mas pra mim foi uma grande mudança, tanto no meu lado físico, quanto no espiritual. Todas as madrugadas dos finais de semana, me reunia no blog com os Lunáticos e discutíamos sobre nossas sensações. De uma coisa tenho certeza, aliás, temos: A cidade é como uma pessoa, muitas vezes no dia passa o tempo bastante ocupada, com muitos problemas e rotina, à noite também em alguns casos, ela descansa, esquece tudo, mas permanece vivendo e sentindo.

Por: Vinícius Costa
ps: A história acima é uma ficção.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Pra dizer em aberto


Nesse sincero desrespeito
Que hoje te trago em aberto,
Revelo o que em meu peito
Há muito, estava encoberto.

Pra dizer que a tua ira não me alcança
E que a tua comédia apenas me cansa.
Pra dizer que a tua falsa opinião
Nunca respondeu à nossa eterna questão.

Pra dizer que a tua inconstância
Nunca afetou tuas filosofias banais.
Pra dizer que minhas cordas vocais
Não suportaram o peso da tua ignorância.

Pra dizer que teu passado te condena
E eu não estou disposta a pagar a tua pena.
Pra dizer que te futuro é uma caixa vazia
E me assombra a tua fantasia.

Pra dizer que o teu peso não me destrói
E que a tua hipocrisia ainda persistirá.
Pra dizer que eu presente nunca existirá
E que a tua fúria não me corrói.

Por: Letícia Rosa

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Quarto escuro


Hoje me encontro desolado,
Ao canto sem muito o que dizer.
Me perco em um universo vazio
Sem muito o que esperar.

Você já se encontra tão longe
Que meu coração já cansou de esperar.
Amor isso só foi no momento
Em que você partiu.

Aqui estou sem muito o que fazer.
Tampouco consigo entender
Porque está assim.
Não sinto nada além de tristeza.

No meu quarto escuro me
Encontro sem esperanças.
Meu olhos ardem de tanto chorar.
Hoje já não sei mais o que procurar.

Pois a luz se foi e
Nesse momento esse quarto só
Se encontra mais frio e escuro.
Onde tão poucas coisas consigo entender.

Por: André Alves

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Oh, venha!


Oh amor, venha! Chegue mais perto! Deixe-me desvendar os teus mistérios, descobrir teus desejos Deixe-me sentir o teu sorriso mais próximo. Deixe-me dizer-te a verdade que tenho prendido entre os dentes. Deixe-me esquecer o passado, esqueça-o também.
Oh amor, venha! Mais perto. Deixe-me pronunciar as palavras que me arranham a garganta. Deixe-me deitar em teu ombro e sentir o teu cheiro, só pra esquecer meus medos. Deixe-me agarrar-te, nunca deixaste ir. Deixe-me contar os meus segredos, meus sonhos. Deixe-me traçar novos caminhos, mudar meus planos, encaixar-te.
Oh, amor venha! Deixe-me morar em teu abraço, sem preocupar-me com mundo lá fora. Deixe-me ver-te em meu futuro, para que eu possa não mais temê-lo. Deixe-me ouvir tuas palavras sinceras, acreditá-las.
Oh, venha! Venha por inteiro! Venha com medos, defeitos, anseios. Venha com lágrimas, feridas em aberto, saudades. Venha com sonhos, passado, presente e um futuro ainda por ser escrito.Venha com pesquisas, descobertas. Venha sem expectativas, sem exaltações, sem planos. Venha com todo o amor que tenhas. Venha com tua vida, e faça com que seja nossa... Uma só...

Por: Letícia Rosa

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Por que não?


Um certo dia, um menino de cinco anos chamado Marcos, com seus cabelos lisos se movendo lentamente com o vento suave e seus belos olhos claros brilhando como diamantes à luz do sol, encontrou um cachorro que revirava o lixo.
Mas o cachorro, ao vê-lo, curvou-se o reverenciando e então começou a segui-lo. Porém, de primeira, o garoto o rejeitou por ser um cão de rua sujo e pulguento. Mudou de idéia depois de perceber os seus olhos tristes e preguiçosos, seus pêlos ainda macios e sua lealdade.
Como um simples gesto de carinho passou sua mão em seus pêlos e perguntou:
- Qual o seu nome cachorrinho?
Ele nada escutou, seu semblante caiu como a chuva suave tocando o chão. Mas insistiu novamente, perguntando:
- Qual é o seu nome, belo cachorrinho?
E aquele pequeno cachorrinho soltou bem alto, em um tom grosso ficando fino ao final:
- Au au au!
Um homem robusto com um olhar indiscreto ficou refletindo sobre tal cena que acabara de presenciar. Resolveu se dirigir ao garoto:
- Garoto, por que ainda insistes com esse cachorro? Não sabes que ele não te entende e não pode se fazer entendido?
O semblante do garoto caiu entristecido, ficou refletindo por algum tempo, não entendendo bem. Resolveu falar:
- Por que não? - Perguntou encarando o estranho com curiosidade.
O homem pensou por alguns instantes se falava a verdade ou deixava a magia da infância continuar... Optou por falar a verdade, já que o que pretendia era analisar o garoto.
- Porque ele é um animal que não pensa. Só o homem é capaz de pensar!
O garoto abaixou sua cabeça pensativo, e a levantou como um semblante doce de criança. Olhou-o nos olhos.
- Que seja!
Então o garoto se levantou e foi embora sem olhar para trás. O cão continuou a segui-lo.


Por: André Alves e Victor Magalhães

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Será que poderias?


Será que podes sentir? Será que realmente podes ouvir? Sabe, às vezes é como se eu perdesse todo o meu autocontrole. Me reflexo, agora, me confunde. Como foi que chegamos até aqui?
Será que entenderias? Será que realmente te importarias? Há tantos labirintos, tantos abismos. Entre o sim e o não sempre há um precipício. Escondi minhas verdades entre as linhas desse desinteresse. Desculpe, nunca soube os limites das minhas idealizações. Há muito, perdi o ponto entre o mundo e minhas fantasias.
Será que podes tocar? Será que realmente queres tentar? Ao longo do caminho há várias pedras, várias aberturas. Em toda a estrada há pedaços de mim. Aqui tudo foi redimido, quebrado. Mas entre todas as coisas que tenho de perder, não quero que isso se vá.
Será que podes ver? Será que realmente te arriscarias a perder? Aqui dentro já há vários remendos e os calos tornaram essa superfície quase impenetrável. Mas ainda há sangue e espaços. Eu não sei a minha direção. Ainda espero que pegues minha mão, diga-me que não há nada a temer e que podes guiar-me. Será que poderias?

Por: Letícia Rosa