Pages

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Aqui dentro


Trago os desesperos
Dessas dores meio gritantes,
Os impulsos incontroláveis
Desses cálculos forjados.

Venho com os exageros
Desta conhecida peça,
Com a lentidão mórbida
Dessas fragilidades.

Sou toda questões
De conclusões sem alicerce,
Toda passos sórdidos
De viagens sem porto.

Então, sente-se aqui ao meu
Lado e - mesmo que por um
Escape qualquer - deixe-me
Ser quem tanto...

Por: Letícia Rosa

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Esquecer


Livros, mesas, sonhos e realidades.
Segurando a gravidade agora.
Em minha frente lembranças, desgostos, saudades.
Deixei pra traz pelo peso que causava
Carregá-los em um pequeno espaço.
Talvez isso seja tudo, talvez seja apenas eu.
O agora é apenas um suspiro lembrando um beijo
Que deveria ser roubado.
Uma musica sobre a atualidade, sempre fútil,
Faz-me lembrar o quanto fútil sou.
Talvez você não faça ideia do que é para todos.
Talvez todos não façam ideia do que são para mim.
Parece que o silencio é o mundo que me perco quando
Olhar tudo é esquecer todo o resto...

Por: A.L. Magalhães

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Um dia


Estava frio ali. Frio demais. Estava escuro também. E eu estava nu.
Eu não enxergava nada, mas corria. Tropeçava. Caía. E caído, me contorcia. Molhado pelas minhas próprias lágrimas, eu não fazia um só barulho. Eu tremia, batia a cabeça nos joelhos, no chão. Passava a unha com força nos meus braços e face.
Eu não podia ver, mas os arranhões sangravam me sujando de vermelho, enquanto eu fechava as mãos com força e as batia contra o chão, levantando minhas costas e batendo com força no chão, repetidas vezes.
Ali, dentro de mim, eu morria devagar. Fazia do vazio meu amigo, e me unia a ele, me servindo das suas agonias, seus terrores, seus perigos. Ali, dentro de mim, eu era o nada, e aquilo não significava nada, nem pra mim, nem pra ninguém.
Um dia eu sararia. Um dia eu mudaria. O calor chegaria, a luz não fugiria de mim. Um dia eu não estaria nu, nem machucado, nem morrendo. Um dia eu sorriria e conseguiria gritar. Mas um dia não chega... simplesmente não chega.

Por: Neemias Melo

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Quanto tempo?


De repente lhe ocorreu que algum tempo já se havia passado...
Foi até o espelho. Passou as mãos nos seus cabelos brancos, suas rugas...
Quanto tempo? Quando deixou de ser um ser humano? Quantos ainda sobravam? Quantos compromissos havia deixado de lado?Para quantos cargos já havia sido promovido? Quanto tinha se demorado em construir a sua casa dos sonhos? Quanta vida havia se perdido? Qual foi a recompensa?
Olhou em volta. Sua casa tão linda, com uma mobilha tão cara... Tão vazia!
O despertador tocou, anunciando o horário de mais uma reunião. Decidiu-se por não ir.
Hoje pôde notar como tudo tinha sido em vão. Nem se quer se lembrava do que vivera nos últimos anos... Talvez porque simplesmente não vivera.
Pensou em ligar para algum amigo. Mas não os tinha. Pensou em visitar algum parente. Mas depois da morte de seus pais, não manteve contato com nenhum deles. Não tinha namorada, apenas algumas noitadas com lindas garotas e muito dinheiro na carteira. Não havia ninguém por ele...
Mas já era tarde para arrependimentos... Isso não lhe foi permitido...
O coração que já não estava tão bem, o traiu de vez.
Logo ele, um homem tão rico e tão influente...
“Não tempo tinha a perder, era muito atarefado e não se dava ao luxo de abrir uma exceção”.
Sendo assim, depois de uma forte dor, suas vistas escureceram, seu corpo todo amoleceu, e suas forças acabaram por inteiro. Deslizou lentamente na parede que usara para apoiar-se. Chegou ao chão. E ali, adormeceu... Eternamente...

Seu corpo, encontrado pela empregada doméstica foi velado, sim. E o seu velório, claro, estava repleto de queridos amigos, com queridas lágrimas, de queridos olhos, que tanto queriam aquela querida fortuna que não havia deixado herdeiros.

Por: Letícia Rosa

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Perdido


Me encontro perdido.
Hoje queria poder escrever tudo aquilo
Quer sinto, tudo aquilo que realmente
Eu queria escrever aqui.

Estou cansado de carregar esse peso
Mas meus esforços são em vão.
As palavras fogem da minha boca,
E me afogo em tal situação sem nenhuma
Mão pra segurar, sem um amigo
Que possa me salvar.

De certa forma até me sinto feliz,
Pois é a única saída que tenho
Pra jogar esse peso fora.

Não consigo compreender e mais uma vez
As palavras fogem de mim...
Mas saiba de uma coisa: eu te amo.

Por: André Alves

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Eu juro


Eu tentei. Eu juro que tentei. Juro que me esforcei pra tentar deixar tudo certo e, quando percebi, tudo estava desmoronando. Juro que não notei as lágrimas que corriam do teu rosto enquanto eu partia sem me despedir. Juro que tentei ser melhor, fingir ser outra pessoa, ser alguém menos diferente, mas não deu, na dava, não dá. Juro que ainda te amo, e que ainda sinto falta do teu abraço e do teu beijo. Eu juro que dei o melhor de mim. Mas não me peças pra voltar. Não me peças pra arriscar algo que sabemos que não darei. Não te preocupes comigo também, eu me viro, eu sempre me virei. Seja feliz, seja você, e não me queira mais. Sinta saudades minhas, pra que eu me sinta ainda teu. Mas tu não és mais minha, e é assim que será. Tu estarás no meu coração, e quanto a ti, guarda-me na tua memória. Lembra do meu sorriso, do meu abraço, dos momentos que passei contigo. Não me espera pro café, mas guarda sempre um pedaço de bolo pra mim.
Eu estarei por perto, eu juro.

Por: Neemias Melo

domingo, 7 de novembro de 2010

Porta aberta

"Venha quando quiser, ligue, chame, escreva - tem espaço na casa e no coração, só não se perca de mim" (Caio Fernando Abreu)

A porta estará sempre aberta.
Venhas quando desejares,
Fiques o quanto quiserdes.
Tenho te esperado tanto...

Fiz uma nova canção.
Gostaria que tu a ouvisses.
Gostaria também que pudesses
Dar uma olhada no meu jardim.
Lembra-te das flores que
Estava regando a lágrimas?
Pois bem, todas elas cresceram...
Agora exalam um aroma de sorriso...

Da ultima vez em que te visitei,
Vi que cultivavas um pouco de
Sonhos e esperanças...
Mas também medos...
Traga notícias, preciso saber como estão,
Preciso saber de tuas verdades.

Venhas assim que puderes.
Traga contigo este teu sorriso
E também as tuas palavras - sempre certas -
Que juntos têm o dom de fazer-me crer...

Mas quando hora de partirdes chegar,
Não te esqueças de deixar, também
A tua porta aberta, para que eu possa
Saber como andam tuas canções...

Por: Letícia Rosa

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Pode chorar, pequena


Então ela, com os pés descalços, veio até mim com os olhos marejados, sem me olhar nos olhos. Tinha muito a dizer, mas naquele momento nada conseguiria pronunciar.
- Venha cá, pequena - disse eu, percebendo nos seus pés sujos que os caminhos que ela havia trilhado haviam sido, novamente, perigosos demais - Depois tratamos dessas feridas, mas por enquanto fique aqui, nos meus braços. Isso... não precisa ter vergonha de chorar. Não precisa dizer nada, eu entendo. Apenas respire.
E afastando os fios do seu cabelo negro daquela face molhada e um pouco suja, beijei-lhe a testa.
- Não se afaste de novo, ou você vai se machucar mais. Confie em mim, eu não vou te deixar cair.
Ali, eu conseguia segurá-la em meus braços, e olhava atentamente as marcas feitas por outras quedas. Tão pequena, tão sozinha, tão perdida. Um dia ela cresceria, se tornaria forte, e retiraria do caminho cada pedra que a pudesse machucar. Mas enquanto isso, eu estaria ali, com meus braços abertos, torcendo pra que meu abraço bastasse.

Por: Neemias Melo

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Constante batalha


- Eu queria te contar uma coisa, Murilo. – Disse eu com um sorriso malicioso.
- O que é Marcos?
- Eu transei com a Maria Eduarda. – Respondi com naturalidade.
Murilo parou o carro rapidamente, sem se quer perceber que estava furando o sinal.
- Isso é brincadeira, não é? – Disse ele com os olhos marejados.
- Não – Respondi com frieza.
Esse foi o nosso último diálogo. Depois disso, foi tudo socos, lágrimas, gritos...
- Nós iríamos nos casar no final do ano, seu vaga...
Tudo que me lembro foi de sua fala sendo interrompida por uma luz seguida de um baque.
Acordei com uma tremenda dor na cabeça e na perna. Minha mãe, ao ver que eu havia acordado, veio dizer-me que deveriam ter de amputar a minha perna... Mas as minhas lágrimas se deveram ao fato de que, por uma culta unicamente minha, a vida do meu irmão havia chegado ao fim. Uma culpa unicamente minha.
Como fui arrogante! Todos somos iguais, todos cometemos erros. Nossa arrogância nos cega a ponto de não ter mais volta. Como fui tolo de me deixar levar pelo ódio, pelo ciúme... Mas agora lamentar não adianta, perdi uma parte de mim, nunca mais o verei. Nunca mais.
Maria Eduarda, é claro, superou muito bem. Nunca o amor verdadeiramente. Talvez você até pense que eu também nunca o fiz, mas sim. Sempre o amei como uma parte de mim, mas minha arrogância me cegava. Mas que isso, me impedia de entender a complexidade do amor. Até esse dia em que tomei um “tapa na cada da vida”, que me derrubou, abriu meus olhos e... Me feriu!
A dor... Uma palavra tão pequena... Um peso tão grande...
Não é segredo que ela nos faz amadurecer. Na verdade, eu precisava disso. Precisava entender que todos somos miseravelmente iguais, que todos estamos sujeitos à morte... Que somos mais que sangue e intelecto e que cada um de nós é belo por si só, e principalmente que não é pedestais.
Mas mais que tudo, aprendi que é preciso humildade para aceitar as quedas. Que as pedras das nossas caminhadas, são necessárias para que caminhemos melhor. Que a vida é uma constante batalha que não permite desistências. Ela exige soldados fortes, que tenham fé, e que saibam sim, cair, mas fazer de cada queda um aprendizado para levantar-se melhor, disposta a seguir em frente e lutar constantemente nesse nosso eterno combate.

Por: Vinícius Costa e Letícia Rosa