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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Um dia


Estava frio ali. Frio demais. Estava escuro também. E eu estava nu.
Eu não enxergava nada, mas corria. Tropeçava. Caía. E caído, me contorcia. Molhado pelas minhas próprias lágrimas, eu não fazia um só barulho. Eu tremia, batia a cabeça nos joelhos, no chão. Passava a unha com força nos meus braços e face.
Eu não podia ver, mas os arranhões sangravam me sujando de vermelho, enquanto eu fechava as mãos com força e as batia contra o chão, levantando minhas costas e batendo com força no chão, repetidas vezes.
Ali, dentro de mim, eu morria devagar. Fazia do vazio meu amigo, e me unia a ele, me servindo das suas agonias, seus terrores, seus perigos. Ali, dentro de mim, eu era o nada, e aquilo não significava nada, nem pra mim, nem pra ninguém.
Um dia eu sararia. Um dia eu mudaria. O calor chegaria, a luz não fugiria de mim. Um dia eu não estaria nu, nem machucado, nem morrendo. Um dia eu sorriria e conseguiria gritar. Mas um dia não chega... simplesmente não chega.

Por: Neemias Melo

Um comentário:

  1. Um dia vai chegar, vai chegar!
    Encantadora prosa!

    "And there will come a time, you'll see, with no more tears.
    And love will not break your heart, but dismiss your fears.
    Get over your hill and see what you find there,
    With grace in your heart and flowers in your hair." Mumford and Sons...

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