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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Pode chorar, pequena


Então ela, com os pés descalços, veio até mim com os olhos marejados, sem me olhar nos olhos. Tinha muito a dizer, mas naquele momento nada conseguiria pronunciar.
- Venha cá, pequena - disse eu, percebendo nos seus pés sujos que os caminhos que ela havia trilhado haviam sido, novamente, perigosos demais - Depois tratamos dessas feridas, mas por enquanto fique aqui, nos meus braços. Isso... não precisa ter vergonha de chorar. Não precisa dizer nada, eu entendo. Apenas respire.
E afastando os fios do seu cabelo negro daquela face molhada e um pouco suja, beijei-lhe a testa.
- Não se afaste de novo, ou você vai se machucar mais. Confie em mim, eu não vou te deixar cair.
Ali, eu conseguia segurá-la em meus braços, e olhava atentamente as marcas feitas por outras quedas. Tão pequena, tão sozinha, tão perdida. Um dia ela cresceria, se tornaria forte, e retiraria do caminho cada pedra que a pudesse machucar. Mas enquanto isso, eu estaria ali, com meus braços abertos, torcendo pra que meu abraço bastasse.

Por: Neemias Melo

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